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Foto do escritorRevista Sphera

Três poemas em prosa do angolano Abreu Paxe


Abreu em foto de João de Almeida




Toca com delicadeza o rosto, os dedos contaminados olhos ao verem os coágulos estendem-se expressivos ares o nariz já não sente cheio nenhum … alguma dessa merda é a tríade de contágios: o monologo confinados diálogos esteira na sala com o desconhecido … sem limão algum tossia alguém encurvado, e expandia seu olhar pangolim, respirava e fumava negando o que entrava e saia entre bolinhos secos pulmões sem sopa quente de neve … uma colher de coágulos, o chá, o suador, o ventilador com vida o cobertor … e os fios são linhas, costuras e encaixes textuais de sucessões infinitas … a madeira, os pregos, as cores … a natureza, o homem, a cultura, a cidade, a floresta … os holobiontes os afectos beijos e abraços estendidos o pensamento vegetal nos materiais de biossegurança, essa usurpação como a linha do pensamento metonímico, a tosse novamente e os perdigotos modernos se evaporam viajam até, os espirros, as lágrimas textualizadas para o plano dos contágios entre o povo de morcegos indígenas, o mítico, o místico, o ideológico, noutro sopro de vida o yuxim. traz consigo o poder de transformar … sábio e sem o saber ainda toca com delicadeza o rosto e a estrela foge da lua.



 


Primeiro acto de amor ainda toca com delicadeza o rosto muna mavuku eh nsongo vuko dyaka.


É um rosto a meninice duma doença é a mocidade da dor essa também a anatomia duma doença envelhecida era o país de meu distanciamento.


Segundo acto de amor ainda toca com delicadeza a boca mu mahaxi o kukata kwene we o uhaxi.


Sem respirar abro a boca expressiva a asa pensa o vento pesado ainda não pode abraçar esse mundo incontido naquele ar de uma só vez, como muitos de nós desejam ao fugir o verme.


Terceiro acto de amor ainda toca com delicadeza o nariz um missongo yikola neyo uli musongo.

Ao falar o nariz respira também a leveza dum voo a ave o que aconteceria se tudo fosse máscara dum dentro de um instante o pássaro sem água o vírus em circulação.


Quarto acto de amor ainda toca com delicadeza os olhos vu uveyi elavo uveyi vo.


Parece tudo sabão mas não é. Talvez certas coisas tomassem outro rumo as águas e um espaço se abrisse em meus olhos abertos o nariz e a boca esse texto que desce o morro em fuga.



 


Voltamos a tocar a pandemia. dizia o pangolim ao morcego, cantando. dormimos na cidade numa esteira de música. e ela estava a nos enviar mensagem de ameaças. ao acordamos fazemos o exercício de acções especializadas. Continuamos a sentir o ar, a ver a terra, a água, o céu, mas já limpos. o pregão sem a zunga, atoa sem oxigénio.


Caminhando pela cidade quando não mais nos sustentávamos de repente vimos o sinal de estacionamento proibido. nosso desejo de repousar perdeu a magia ao nos indicarem a passadeira. vazios precisamos atravessar e seguimos em frente, a estrada. de repente ela se abriu em jaulas, inteligente a saia segura a calça Kwenda tu kuďitanina muna mavuku. a camisa, o sapato, as sandálias, passaram a ser suporte e portadores. também as mãos, os olhos, os dedos, a boca, o nariz, as orelhas.


De repente como acto de amor o tempo todo em pé. sentado e invisível luta hoje pela vida que não teve ontem. caminhava. armava-se. e as grelhas da jaula. passou a ser lindo ver o mundo lutando pela vida que perdia. sem poder: a beleza confinada. o dinheiro não se sustenta mais. quando há lua cheia as estrelas desaparecem. e conjugam os verbos. não tocam mais. usam, lavam mais. tudo mudou oh Thungululu.

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