Ésio Macedo Ribeiro
DO SUICÍDIO
Il y a toujours quelque chose d’absent qui me tormente.
Camille Claudel
Penso em Periandro.
Mas não serei o último.
A vantagem é o que se busca.
Nunca é bom sair depois da hora.
Nem é questão de queimar etapas.
Às vezes, é sorte mesmo.
O que não se pode prever.
Por isso revejo Periandro.
Por isso aprendo no perder-me.
Por isso ignoro quem estende a mão.
Ebúrneos dias que me trazem aflição à alma!
As pontes foram levantadas.
O rio é verde; não sei nadar.
Erro as letras do convite.
Tiro o silêncio com música.
Penso em Periandro.
DO RECOMEÇAR I
Quando o passado se torna sua casa,
é chegada a hora de mudar-se.
Quando a morte se torna mais real que a vida,
é chegada a hora de acordar.
A vida para quando o morto
é a causa da saudade.
Alguma coisa se nos escapa
quando recomeçamos tarde!
DO EFÊMERO
As coisas são assim, feitas
de distância. Mas quando um encontro
mostra o quanto eles viram,
torna-se o caminho mais palatável.
Do mesmo modo, quando uma estação
muda, crê em si a expectativa de que
o que virá, embora efêmero, trará
renovação.
Se nessa ação o que se busca é o
encontro com o que é bom,
por que velar o que não serve para nada?
Melhor será o vasto oceano, agitado e barulhento.
São assim os novos dias depois que ele se
foi. Desse jeito que a dor vê,
asfalto quente onde não se pode sentar para descansar.
DO ENTREGAR-SE II
Vem, abraça-me!
Tira de mim o frio.
Assim, fica assim.
É bom, você verá.
Não, não abra a porta!
O vento pode entrar
e varrer de nós
nossas melhores páginas.
Sim, ponha esse disco!
Abra essa garrafa de vinho!
Dancemos em volta
dessas velas acesas!
A lua está cheia
e inunda nosso mundo
de claridade e magia,
fazendo a vez dos mistérios.
Vamos brincar de estar valendo!
Façamos um riso nessa escuridão!
Ouçamos a vida sem reformas,
valendo-nos de todos os sentidos!
*Do livro inédito: Espero que possamos nos ver sem a mediação de algum defunto.
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