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Quatro poemas de Ésio Macedo Ribeiro

Atualizado: 21 de out. de 2021


Ésio Macedo Ribeiro



DO SUICÍDIO


Il y a toujours quelque chose d’absent qui me tormente.

Camille Claudel


Penso em Periandro.

Mas não serei o último.

A vantagem é o que se busca.

Nunca é bom sair depois da hora.

Nem é questão de queimar etapas.

Às vezes, é sorte mesmo.

O que não se pode prever.


Por isso revejo Periandro.

Por isso aprendo no perder-me.

Por isso ignoro quem estende a mão.


Ebúrneos dias que me trazem aflição à alma!


As pontes foram levantadas.

O rio é verde; não sei nadar.

Erro as letras do convite.

Tiro o silêncio com música.

Penso em Periandro.




DO RECOMEÇAR I


Quando o passado se torna sua casa,

é chegada a hora de mudar-se.


Quando a morte se torna mais real que a vida,

é chegada a hora de acordar.


A vida para quando o morto

é a causa da saudade.


Alguma coisa se nos escapa

quando recomeçamos tarde!




DO EFÊMERO


As coisas são assim, feitas

de distância. Mas quando um encontro

mostra o quanto eles viram,

torna-se o caminho mais palatável.


Do mesmo modo, quando uma estação

muda, crê em si a expectativa de que

o que virá, embora efêmero, trará

renovação.


Se nessa ação o que se busca é o

encontro com o que é bom,

por que velar o que não serve para nada?

Melhor será o vasto oceano, agitado e barulhento.


São assim os novos dias depois que ele se

foi. Desse jeito que a dor vê,

asfalto quente onde não se pode sentar para descansar.




DO ENTREGAR-SE II


Vem, abraça-me!

Tira de mim o frio.

Assim, fica assim.

É bom, você verá.


Não, não abra a porta!

O vento pode entrar

e varrer de nós

nossas melhores páginas.


Sim, ponha esse disco!

Abra essa garrafa de vinho!

Dancemos em volta

dessas velas acesas!


A lua está cheia

e inunda nosso mundo

de claridade e magia,

fazendo a vez dos mistérios.


Vamos brincar de estar valendo!

Façamos um riso nessa escuridão!

Ouçamos a vida sem reformas,

valendo-nos de todos os sentidos!




*Do livro inédito: Espero que possamos nos ver sem a mediação de algum defunto.

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