Carlos Barroso
Descorpo
Áfricas
teu corpo
em ouro barroco
tua fé
em Santa
pescada
nas águas
teu gozo
oceânico
das Áfricas
Lugar-comum Vida
1
qu€m ¥a£
nos sal¥ar
da ¥£da?
s€ a ¥£da
¥a£ e re¥£ra
s€mpr€-¥£da
£das, £das
m€nos ¥£ndas
morm€nt€
€x-m€n£na
2
estou com um problema sério
se a vida não me contesta
eu a desespero
se a vida não se repinta
eu a afogo em cloro de piscina
ou mesmo, quiçá, em versos
a vida nunca
foi o que espero
o malogro não sai em capa de revista
nem uma linha
nem em meme
não adianta gritar
Mame!
se a vida não me aborrece
passo a borracha
e não enxergo mais
as suas estrias
nem seus vitrais, bel-prazeres, íris
não me declaro mais à vida
nem quando ela me imita
entre mim e ela
não há pista de cavalo de corrida
apenas um clérigo nulo na missa
apenas um centésimo
do que o olho por olho refina
do que a moça, nua, já deu na vista
ApdoOswald
no
ap
doOs
wald
sefaz
ap
oesia
sefaz
ap
ós
odia
deam
or
ap
ologia
Algum soneto de amor
Não pensar nesse amor como estratégia de fuga ou envergadura
Uma rusga que se coloca na balança de supermercado barato
Vale vintém, decadência, para o vento se esbaforir na montanha
Uma nesga de contentamento frente ao abismo, com seus buracos
Em vão, pois não há, no simulacro, quando se procria, um elo mágico
Tudo é o que se leva, onde se estreita, a sucumbir cada lado
Em que aparecem as mesmíssimas falas, revoam apenas zumbidos
O troco recebido não é, para céu ou inferno, seu pior castigo
Todos os morros foram alamedas; em transe a se desfazer em poeira
Acima do que pensamos, existe um barro que se arvora argila
E que almeja ser a planície, olhares onde ainda resiste vista
Mas é apenas uma cavidade, oca em si, em que se faz silente
Nada soma ao que já estava na conta do desprezo, obra tênue
Ou se insinua acima das correntezas, no horizonte perene
Sumiram os urubus
essa abstração no
vácuo da cidade
acabaram as carniças
ou tudo que se
regozijava
se tornou nenhum, tudo o nada?
o todo-póstumo tomou
para si o nu?
Sumiram os urubus
não significa a
cidade
mais depurada
como se o odor
da carniça
fosse princípio e deserta
causa
Sumiram os urubus
assim se o ciclo da
matéria se abstraísse
e se refugiasse em
um céu estéril, arredio
e se a cidade
se transmutasse em
um Arrudas pútrido e
não no Nilo?
onde, afinal, os urubus esconderam
seus ninhos?
Sumiram os urubus
em que se situa o grande pássaro
da carne e da simbologia do
faminto
uma nave cujo
aeroporto é o que exime o
o podre
entre
o famélico e o desvario
Sumiram os urubus
a cidade já não
tem seu ar
mais ímpio
a não ser que se
entenda a
planilha urbana
entre avenidas
desarborizadas
e o lixão depositário
a réstia do que se
ingere
e a
matéria que cobre
o ríspido
e ali o urubu
imperador a limpo
se colorindo
Sumiram os urubus
alguém pode
dizer se o
céu é o claro
que antecede
o limbo?
mas não pode
ser reclame
do estúpido que se estratifica
do piche que
cobre o solo
tendo o urubu
em todo seu
claronegror
vítima ou desatino?
Sumiram os urubus
agosto/2020
Setembro reescrito
em setembro reescrito
te esperei como
um aluvião corrompido
inocente e assíduo
a mim
em folhas
que voam
à putrefação
em setembro
não vinhas
mesmo não confabulados
em outros contextos
espetáculos
de folhas
ventanias
e um ar de fole
que se expira
Métrica
saibas que sofrer com a métrica
é mais do que sofrer com o sexo
em que se entra e tira a palavra
e ainda falta
Gostei muito de seus poemas, Carlos. Realmente há um movimento, uma resolução... São descolados e bem elaborados (um charme, "Métrica"!) Obrigada por enviá-los. 😉
Gostei muito! Pluralidade matemática e formal, sob muita sensibilidade e técnica!
Suas palavras melódicas, sob o sol, projetam sombras. A gente lê,sente o cheiro e toca.
São textos ágeis!!! Não confundir com textos rápidos!!! É uma urbe desenhada a lápis!!! É o coração produzindo som & genitália!!!
Surpreendente, Carlos! 😍