Orquidárias
orquídeas or quideias
dão em cachos
brancas roxas rosas
azuis carmim
beiçudas côncavas
plantas d’árvores
amarillas solares
livres leves santas
aeroflores aeroaves
orquidárias orbitárias
luminárias de calçadas
em seus borboletários
feitiços nectívoros
ócios luxuriosos
na busca de um caso
um affair um casório
de mel e grinalda
por sépalas salientes
desfralda perfídias
por labelos hipnóticos
alimentam-se de luares
oferecidas insondáveis
sempre nuas
sem preços vendáveis
damas descalças
pés na úmida terra
jogadas aos meus olhares
Olímpia
deusa de límpio brilho
meu amor de cinco argolas
entrelaçadas em arco-íris
libido nos une & aflora
você, meu salto alto carpado
minha pirueta selvagem
meu corpo sem gravidade
solto à terceira margem
meu nado de peito aberto
meu nada em tudo ereto
meu todo em quase nada
jogada no fundo de quadra
meu um milímetro a mais
meu segundo, um a menos
minha medalha meu parto
do alto do pódio intenso
meu tombo assombro olímpico
meu grito sem véu nem vara
meu choro inverso contido
na raia na rua na praia
meu skate escapa alado
meu xilique já sem tênis
minha vitória de Phênix
lágrima queima e afaga
meu saque sabor saquê
meu ippon de arigatô
minha linha de chegada
a bola me leva ao gol
meu ar anabolizante
meu mar de braços e remos
meu ace no Ping-pong
na arte do enfrentamento
minha esgrima em alinho
minha canoa à vista
no meio do redemoinho
nem só na força há conquista
minha próxima jornada
minha queda à canhestra
meu sonho rumo ao ralo
a derrota; a melhor mestra
Cachoeira
a vida começa a correr
mais rápida do que
as próprias pernas
não tropeçar
nas mesmas
não se afogar
nas perdas
vida: rio manso-sedento
escorre pelas beiradas
rumo à grande-cachoeira
descalço d’alma
sigo com os pés
no riacho da ilusão
Luís Turiba
SOBRE(VIVENTE) DA POESIA
Quando o mundo viralizou, me recolhi corajosamente covarde, sem heroísmos vãos. Fechei meu Ás de Copa. Recuei meus beques, fiz retranca. Passei a viver numa pétala da Poesia. Escrevi, escrevi quase uma bíblia. Entre tantos textos, Fiz um livreto - 48 páginas, 25 poemas, links pra músicas e vídeos. Surrupiei papelões nos supermercados para fazer as capas desenhadas uma a uma com letras de pichação de parede. Dei título: “Se virem, Terráqueos”. Saíram vários antes do primeiro. Veio 2, 3, 4, 8, 10. Numerados e assinados. Feitos em safras de dez, todos dedicados e assinados. Fui fazendo como quem faz filhos. Hoje são 160 exemplares. Hei de chegar em 2021 nos 200. Ato de resistência poética.
Gosto de fazê-los pois causam impactos emocionais E estéticas nos leitores. O mestre Augusto de Campos, por exemplo, que mereceu um livreto com capa especial ao fazer 90 anos, escreveu: “seu poemamúltiplo de papelão luxo dos lixos, de bela artefatura futuribista”. Outro poeta irmão, o carioca Tanussi Cardoso, fez um filmete de quase 5 minutos de análise e apreciação. O poeta piauiense Paulo José Cunha fez uma crônica generosa que serve como apresentação do livreto.
Por último, a poeta uruguaia Sofia Vivo, ex-adida cultural do seu país no Brasil, está em processo de tradução dos poemas do “Se virem” para o espanhol.
Alguns desses poemas ofereço nesta publicação, além de alguns outros inéditos, entre os quais o poema ORQUIDÁRIAS.
Isso, pra não dizer que não falei do flores nesta véspera do centenário da Semana de Arte de 22.
Luís Turiba
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