top of page
Foto do escritorRevista Sphera

Dois contos de Plinio Camillo

Atualizado: 13 de set. de 2021


Plinio Camillo




Benilde e Zínia


O revólver na nuca fez a menstruação de Benilde golfar.

Gritaram e ela orou.

Urraram e ela prometeu.

Queriam só o dinheiro do banco. “Não é um roubo é apenas mais um ato da guerra revolucionária, que avança a cada dia e que ainda este ano iniciará sua etapa de guerrilha rural.” O cofre foi ajustado para abrir dali uma hora, então eles levaram somente o dos caixas. “Agora é olho por olho, dente por dente.”


Silêncio. Nenhum ferido. O segurança chorou até ficar vesgo! Depois da polícia pegar os depoimentos de todos, o gerente deu o resto do dia de folga.


A Zinia emprestou calça mais folgada e Benilde voltou para casa desconsolada. Entrou, tomou banho e dormiu pesado sem valeriana e no final da tarde já tinha cortado o cabelo, rasgado o álbum de casamento, comprado três saias rodadas e encomendado muitos cravos amarelos, azaléias vermelhas e magnólias. Quando o marido chegou, anunciou que iriam se separar. Não brigou, não reclamou e nem choramingou. Ela até achou que ele suspirou, talvez aliviado. Enquanto o ex-marido tirava suas coisas do quarto, ela foi para a sua primeira aula corte e costura.


No quarto assalto seguido ao banco, Zínia nem ligou. Liberou o seu caixa. Deu tudo e no final emprestou uma calça que ia dar para os pobres para a Benilde. Na terceira vez que Benilde roubou um beijo seu, durante o intervalo do café, Zínia teve certeza que não era somente um agradecimento. Depois da sexta vez que Benilde insistiu, Zínia concordou em ir ao cinema. Riram, conversaram, comeram pipoca e voltaram de mãos dadas. Benilde deu um beijo no rosto. Zínia esperava mais. Somente depois da missa de sétimo dia de sua mãe, Zínia concordou que Benilde dormisse no seu apartamento. Preparou o sofá na sala e se trancou no quarto. Pela manhã encontrou Benilde dormindo no corredor. Volney, o ex-marido, apareceu somente depois da segunda música. Sorriu, cantou e tirou a Benilde para dançar. Zínia sentiu uma pontinha de ciúmes que foi limada pelos braços do gerente de fundos futuros. Quinta feira. Comeram do mesmo prato, beberem do mesmo copo e combinaram sair na sexta à noite para um jantar romântico. A primeira certeza, quando acordou com a Benilde entre as suas coxas, foi que não haveria uma segunda vez.


Benilde desce do ônibus pensando no deleite que são as coxas da Zínia. Sorri para o pé e ri com a língua. Mais tarde irá ligar e dizer que esqueceu os brincos em algum lugar perto da penteadeira: “Ganhei da minha falecida madrinha!” Prende o ar, retém no paladar o gosto de Zínia, relembra o terceiro beijo de despedida. Sempre quis ser médica e foi bancária. Sempre quis conhecer o mundo e casou para não ficar sozinha. Apressa o passo.


Quer atravessar antes do sinal abrir e não sente mais o peso do dia da constatação. Era o que é. Sente a emoção do dia da declaração: os olhos delas brilharam.

Sorrir para o primeiro êxtase do dia da revelação: os olhos dele embaçaram.

Revê o alívio do dia da satisfação: os seus olhos cintilaram.

O tempo se esgotou. Iria arrumar o novo velho apartamento sem o marido.


No meio da faixa e depois do segundo tiro, lembra que o celular não tinha mais créditos.

- Quem vai avisar a Zínia?


Antes de ser atropelada por uma bicicleta, enquanto atravessara a rua, Zínia queria que algo remexesse com ela. Sentia saudades!


Depois de ser atropelada por uma bicicleta conduzida por um ciclista enquanto atravessava a rua, na faixa de pedestre, Zínia teve certeza que encontrou o amor de sua vida.


Antes de ser desinternada do hospital que estava por ter sido atropelada por um belo ciclista muito mais novo, enquanto atravessava a rua, na faixa de pedestre, Zínia já sabia onde ele morava, o que fazia e que tinha ficado noivo da namorada de cinco anos.


Depois de feitas dez sessões de fisioterapia, por ter sido abatida por um jovem ciclista, Rafael, enquanto atravessava a rua, na faixa de pedestre, Zínia já tinha ligado vinte e três vezes para ele, mandado trinta e quatro rosas vermelhas para o trabalho e enviado quarenta e cinco telegramas cifrados na sua casa.


Antes de levar as duas facadas na bunda da noiva traída de Rafael, Zínia lamentou que ninguém do banco foi ao enterro da Benilde.




Naked Man on the Bed - Lucian Freud




Irmã sol e irmão lua


- Feche os olhos e levante.

Sentiu a calça sair. Um fina faca no meio das costas.

- Tire a cueca.

Não entendeu: soco na nuca.


Sempre quis ser a Solange. A Sol, sua irmã mais velha, morreu muito antes do seu nascimento. Ela seria uma ótima irmã. Teria ensinado a jogar bola, subir em árvore e o defenderia dos grandes da escola. Primeiro chegaria e pediria educadamente para que cessassem as torturas e os xingamentos. Diria: Meu irmão é deste jeito… Claro que a molecada não iria ouvir. Falariam que irmã de viado é puta!! Já preparada, racharia a cabeça de todos e botaria fogo nos calcanhares deles!


- Tire. - Atordoado, tirou.

Uma mão forte e pequena o empurrou para cima da cama.

Ouviu o escarro.

Um soco empinou. Um indicador e um anular assegurou a penetração.

- Pirulito bate-bate e o meu coração vai atrás!!!

Vai até fácil.

- Vem comigo!


Sol iria conter o pai e não deixaria a mãe quebrar o seu braço. Aconselharia: Ele é assim. É seu filho e meu irmão! Vai precisar do nosso amor e apoio. Gargalharia quando o irmãozinho contasse que depois do beijo na Débora tinha vomitado no vestido de baile da garota.


Põe um pouco.

Tira uma metade.

Põe.

Deixa ficar.


Ajudaria a escolher a roupa para o primeiro encontro com o Paulinho. Consolaria quando o Tiaguinho o trocou pelo Fred e o chamaria para morar quando foi expulso da casa dos pais! Animaria: Não chore, vou falar com eles no domingo que vem. Vamos mudar de assunto: então você está apaixonado? No duro? Quero conhecer o Mauro.


Urrou.

Puxou cabelos.

Gemeram.

Mordeu as costas.

Não chorou.

- Nunca quis por bem …


Afirmaria: Maninho, precisou de algo, peça. Peça sem medo!!


- Esnobou. Agora deu pra mim e nem piou.


Reconfortaria: Não merecem o seu choro. Sorria e deixe o resto comigo.


- Agora pega o meu pau e vem tomar o leite do moço!


Alentaria: Fica tranquilo, cuido de tudo!


Gozou de deixar as pernas moles.

Ferrou os dentes.

Clamou por Deus.

Desfrutou diferente: engoliu.

Horas depois.

- Pode repetir sem chorar?

- Minha irmã comeu ele …

27 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page