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LOTUS LOBO
S/título, 1994
Litografia sobre papel - 33,5 x 29,5 cm
Foto: Lucas Galeno
A PAIXÃO SEGUNDO RG
Roxo nos altares
procissões de velas:
a do encontro
descimento da cruz
o corpo sepultado
por valquírias e matracas.
Pregadores sacros
vindos de longe
para lembrar aos ímpios
que o Cristo
morreu para nos salvar
de nós mesmos.
E a gente, ungida,
deixa mágoas e lágrimas
escorrerem
tintas do sangue
do Senhor que tudo assiste
em sossego.
ÁUREA DIAMANTINA
Chamar-se Áurea em terra de Chica
e morar na Palha.
Pedras faíscam
entre porcos, no lixo.
“Ai de ti, cidade ímpia”, o pastor
invectiva.
A lama no entanto
arrasta
bíblias, missais e as almas
mais convictas.
Exsultate justi in Domino:
aurífera, diamantífera
prolífera
mãe de cinco negrinhos
EPIGRAMA
horizontal ereto – tronco caído na floresta: a matéria podre do corpo destituída de afetos – pronta para o fogo, a foto, os insetos.
O PINCEL E A LINHA
Para Liliane
No que dizem haver delicadeza
vejo potência,
ânsia de expressão
mais funda da alma orgânica:
a cor pulsante do sangue
em viagem
no corpo líquido das plantas.
Sabedoria de sombra
e luz, a alucinação contida
jorrando como lavra em água fria.
Pincel a surpreender paisagens
onde se conjugam calma
e tempestade
de vento em velhas folhas
e a poeira do chão nos seus sentidos.
No que dizem haver delicadeza
vejo potência
& poesia.
PELÉ ESTÁ MORRENDO
Rei negro?
ídolo de ébano?
ou deus verde dos gramados
em que dançou
a exibir magia ancestral
ao ritmo dos tambores
da matriz afro-ameríndia?
O nome ecoa
binário, bilíngue, duas sílabas
de sentido global
pluralíngue.
Olhos globos
saltitantes
ex abrupto se fecham
recolhidos, enfim
os estilhaços da glória.
Esferas de couro e ouro
vencem o espaço
o equilíbrio
a geometria
para o gol da eternidade.
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