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Foto do escritorRevista Sphera

Cinco poemas de Luiz Roberto Guedes

Atualizado: 27 de set. de 2021


cibernoites


cássia põe as crianças na cama

toma um banho demorado veste

uma camisola vaporosa|que deixa

transparecer seus peitos, seu púbis

veludoso|e telefona para o marido

|piloto civil, no hotel, em Natal, a

serviço de um sérvio|e lhe deseja

|boa noite, querido, durma bem|

então senta-se na cama|na posição

do lótus|liga seu laptop, a câmera

acorda seu olho de brasa e ela diz

|bonsoir, gerard|para seu charmant

ciber amant na rue du faubourg

montmartre, nº 46, 3º piso, Paris




cartomante grega


nenhum ornamento ou instrumento além dos perfurantes olhos verdes bruxuleando presságios de naufrágios perigos de bruxedos: agora velados devoram meu livro dos dias decifram a última página|tu bem sabes: tuas paixões serão abismos de tédio, e ficarás cego, ficarás calvo, sem que isso faça de ti um sublime homero ou um mero esopo, tão só a tristeza feroz de não ter tua voz um trovão épico — sim, não morrerás no mar, chega por hoje |disse-me que abrisse outra garrafa de vinho corvo disse |toque mozart pra dissipar a tristeza| então falamos de byron |que era aquariano, bon-vivant, amante de condessas e criadas em veneza| e foi morrer lá longe |em missolonghi| tonto de espanto com a batalha que não houve em lepanto




motete


um dia diz que te adora

outra hora te menoscaba

sempre acaba


reconta lances romances

de um ex-amante se gaba

sempre acaba


quem meu anjo te chamava

ora te fere — diaba

sempre acaba


e amor que te embalava

palácio de plumas

desaba

sempre acaba





regresso de odisseu

Por que os homens são assim, ela se queixou

quando ele tentou empalmar um seio dela,

Porque nascemos de mulher, ele filosofou


Por que até os intelectuais são iguais, ela falou

quando ele intrometeu a mão sob seu vestido,

Porque hoje é sexta-feira, é lua cheia, e vênus


brilha feliz no céu, ele fez poesia, então

ela disse que a lua propícia já era, e contou

que quando ele andava fora, em navegações


e batalhas, abatendo muralhas ou somente

ganhando seu pão com gravata e crachá, ela

punha as crianças na cama, largava o bordado


e buscava consolo no colo, nos braços e lábios

de uma boa amiga, e ele agora calado, soturno,

não sabe onde meter a cara, nem a espada



alien sex


segundo o livro secreto das raças

alienígenas |suposto manual de

instrução para agentes soviéticos|


a raça Mazarek |da constelação

da Girafa ou Camelopardalis|

se divide em oito gêneros, i.e.,


oito sexos e todos transam

entre si: o fim de semana deles

deve ser bem divertido



Luiz Roberto Guedes

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