cibernoites
cássia põe as crianças na cama
toma um banho demorado veste
uma camisola vaporosa|que deixa
transparecer seus peitos, seu púbis
veludoso|e telefona para o marido
|piloto civil, no hotel, em Natal, a
serviço de um sérvio|e lhe deseja
|boa noite, querido, durma bem|
então senta-se na cama|na posição
do lótus|liga seu laptop, a câmera
acorda seu olho de brasa e ela diz
|bonsoir, gerard|para seu charmant
ciber amant na rue du faubourg
montmartre, nº 46, 3º piso, Paris
cartomante grega
nenhum ornamento ou instrumento além dos perfurantes olhos verdes bruxuleando presságios de naufrágios perigos de bruxedos: agora velados devoram meu livro dos dias decifram a última página|tu bem sabes: tuas paixões serão abismos de tédio, e ficarás cego, ficarás calvo, sem que isso faça de ti um sublime homero ou um mero esopo, tão só a tristeza feroz de não ter tua voz um trovão épico — sim, não morrerás no mar, chega por hoje |disse-me que abrisse outra garrafa de vinho corvo disse |toque mozart pra dissipar a tristeza| então falamos de byron |que era aquariano, bon-vivant, amante de condessas e criadas em veneza| e foi morrer lá longe |em missolonghi| tonto de espanto com a batalha que não houve em lepanto
motete
um dia diz que te adora
outra hora te menoscaba
sempre acaba
reconta lances romances
de um ex-amante se gaba
sempre acaba
quem meu anjo te chamava
ora te fere — diaba
sempre acaba
e amor que te embalava
palácio de plumas
desaba
sempre acaba
regresso de odisseu
Por que os homens são assim, ela se queixou
quando ele tentou empalmar um seio dela,
Porque nascemos de mulher, ele filosofou
Por que até os intelectuais são iguais, ela falou
quando ele intrometeu a mão sob seu vestido,
Porque hoje é sexta-feira, é lua cheia, e vênus
brilha feliz no céu, ele fez poesia, então
ela disse que a lua propícia já era, e contou
que quando ele andava fora, em navegações
e batalhas, abatendo muralhas ou somente
ganhando seu pão com gravata e crachá, ela
punha as crianças na cama, largava o bordado
e buscava consolo no colo, nos braços e lábios
de uma boa amiga, e ele agora calado, soturno,
não sabe onde meter a cara, nem a espada
alien sex
segundo o livro secreto das raças
alienígenas |suposto manual de
instrução para agentes soviéticos|
a raça Mazarek |da constelação
da Girafa ou Camelopardalis|
se divide em oito gêneros, i.e.,
oito sexos e todos transam
entre si: o fim de semana deles
deve ser bem divertido
Luiz Roberto Guedes
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